quinta-feira, outubro 15, 2009

sobre os sobreviventes

“tenho uma coisa apertada aqui no meu peito, um sufoco, uma sede, um peso”

Caio Fernando Abreu

Tá aí. Sempre me encantou a falta de vírgula. Falta não, a ausência. A ausência sempre me encantou. Talvez por nossa relação assim tão próxima, que até chegava a confundir entre mim e ela. E mesmo assim, eu continuo lendo e rasgando o peito e pensando puta que o pariu que alguém já sentiu o mesmo que eu e ainda continuamos presos com a mesma goela seca.

E eu sei que vou sem fé por falta ou excesso de coragem e não vai dar em nada, é tudo ausência, no final das contas. A diferença é que antes parecia mais bonito, panos cá e acolá e joga uma purpurina sobre tudo que resolve. Mas ninguém mais tem saco se é que era saco que se tinha, vá saber. Ou era só uma ressaca coletiva uma transposição de tempo e pronto.

O fato é que ninguém sabe quem é Angela, chá, vodca pura, café na ressaca com cigarro e sol na cara. E as rugas vão continuar aparecendo ao redor dos olhos e o peito vai continuar caindo, tudo igual, nas oito horas fudidas pra reconstruir toda essa ausência.