quinta-feira, maio 28, 2009


rasga a carne feito navalha e sente o quente. diz ele que reconforta. diz ele que transcende. sem saturação, vermelho ocre de azedume. faço o mesmo. e tudo encharca o charco que se forma e me consola.

sábado, maio 16, 2009

sexta-feira, maio 15, 2009


e então ele me pediu a chave da porta da frente. relutei, pensei, não dei. rondou a casa por dias, até que me achasse distraída. entrou sorrateiro, pela janela.
mandei-o sair de todas as formas. gritei, chorei, tentei pedir. escurracei-o incessantemente.
me olhava de soslaio e sorria, ora só com os olhos.
por dias durou esse impasse. eu o empurrava e ele era tão mais forte do que eu!
um dia saiu.
a casa mudou, depois de tanto sua presença. quando imaginava eu estar em felicidade plena, percebo a falta: levara com ele a chave da porta da frente e me deixara lá, trancada dentro de mim.
me debati pelas paredes. gritei e chorei, como se por acaso ele pudesse ouvir.
nada. deixara todo o seu silêncio dentro daquela arquitetura intruncada onde eu me encontrava.
e quando eu já me confundia com quaisquer das paredes, a maçaneta girou.
ele havia voltado pra casa.



(papéis revirados de junho/08)

eu antes não gostava de guardas-chuva, mas aí eu conheci Satolep, pq antes eu tbm não gostava de Pelotas e depois do Vitor Ramil eu passei a gostar. eu gosto de frio, de calor e mais ainda de outono, qd não é nem frio nem calor e tudo se veste de vermelho. mas tbm gosto qd os jacarandás vestem as ruas, as praças e as poças d'água de lilás. eu gosto de fotografia, mas elas nem sempre saem como minha mente imagina. eu gosto de desenhar, mas meus desenhos tbm nem sempre saem como minha mente imagina. lápis de cor, caneta de nanquim e pastel seco. recortes. xadrez. listras. poás. cerejas. pôr-do-sol, chuva escorrendo nas vidraças, som do vento nas folhas secas. livros são sempre a melhor companhia, melhores ainda se forem caios, simones, clarices. música tbm. gosto de maquiagem, mas não sei usar. de salto, mas não uso. às vezes eu pareço uma árvore de natal. de tanto badulaque pendurado. principalmente quando estou feliz. pegar carona na estrada é uma das melhores coisas da vida. chegar na minha casa tbm, mas só qd ela não está bagunçada. Marilyn Monroe e Elvis Presley. Andy Warhol e a Pop Art. cinema europeu, mesmo sem conhecer muito. cores de Almodóvar, cores de Frida Kahlo, cores. escrever sem vírgulas e com muitas vírgulas e com várias reticências e sem ponto final e com muitos pontos finais e sem maiúscula e. sentar na sala sozinha, à meia-luz. tirar gelo do congelador com as mãos. odeio dedos dos pés se mexendo, mas acho pés das mais bonitas partes do corpo. bocas tbm. mas essas, essas eu não me importo que se mexam. principalmente quando coladas à minha.



(papéis revirados de mar/08)

quinta-feira, maio 14, 2009

transbordando

sou eu que nunca estou onde meu corpo está ou é meu corpo que está sempre no lugar errado?

quarta-feira, maio 13, 2009

terça-feira, maio 05, 2009

sobre quando o mar salgou o rio


Manhãs de frio e sol são sempre nostálgicas. Eu, que entre as duas, prefiro sempre a paralela, já me acostumei a sentir saudades inventadas. Penso no mar. Logo eu que não conheço o mar. E meu pensamento se torna azul. Como o céu que carrego nos cabelos, como o mar que carrego na mente.
E penso no pouco que sei sobre a imensidão do mar. E no pouco que sei do que vivi até aqui. E meus olhos, rasos, se enchem e transbordam como o mar que transborda em mim.
Se bem agora eu pudesse com meus pés tocar a ponta do mar, quem sabe pudesse então estar mais perto.
Lembro do Tim falando de universo em desencanto e percebo e penso no quão encantado tem andado o meu. E nisso os olhos se inundam novamente ao pensar que, ó (!), eu posso ter meu próprio mar, que me abrace em cada poro.
Meu próprio mar, que se misture a todos os rios que me perpassam. Porque mudei e não sou mais feita de estradas. Sou fluída, sou eu agora toda água.



(papéis revirados de março/09)

domingo, maio 03, 2009

Antes de começar a escrever, não sabia ao certo que horas eram. Hoje fugi do mundo. Acordei tarde, fechei as janelas e escrevi bilhetes que não serão entregues. E agora, só queria fazer de conta que o hoje não existiu.

Impotência. Outra velha palavra a ganhar novo significado.

sábado, maio 02, 2009

deitada, abriu os olhos.
e deixou que a luz invadisse seus olhos de não ver.
esqueci qual é o gosto de saliva. tudo é fel.
descontrole sobre o corpo que ocupo. ou ocupam por mim.
vibra, corrói. porradas, socos.
fora de mim, o mundo morreu.
a violência que me leva a mover o rosto que pesa, o peso do mundo que morre sobre os ombros.
cadenciado, como uma marcha.
rasgo a pele fina que cobre o que pulsa. sou agora o espaço que outrora era entorno.
todo o amargo de saudade impera.
redenção a cada novo ritmo, violência coreografada.
arde, piazzolla. que a tua dor me renova.

sexta-feira, maio 01, 2009

refluxo final pós tormenta

sou teu câncer, ferida que cisma em não fechar. Lugar-comum, chavão.

o corpo em que teu olhar se perde, o corpo que se perde nas covas rasas da tua fala, no abismo da tua boca. Tenho o calor que sobra da tua pele e a frieza que falta na tua pouca melancolia. Teu inferno, tua sina, tua inspiração pro nada, tua lei. Teu tormento, teu pecado. Tua culpa. Teu sexo. Tua fome, tua sede, teu sedativo.

(papéis revoltados de dezembro/06)

terceiro refluxo

mas ele não está aqui agora, com seus olhos de tranverso, seu silêncio incondicional, sua presençaimpresente e sua impresençapermanente
sua dialética platônica, eternamente no mundo das idéias, ou quem sabe mórfica, na permanência nos domínios do pai de orpheus, filho de calipso... aquela, que tantos escritores inspirou...
nem sei mais porque estrada segue meu discurso, se pelo amarelo-dourado dos tijolos que levam a Oz ou se simplesmente de volta pra casa, esperando as folhas caírem a meus pés na imensindão outonal...


deus, quanta palavra desconexa em um curto tempoespaço



















nem sei bem
talvez porquê
desnorteada
e desenfreada
enfim
caindo
a
s
s
i
m
nesse volteio
ansioso
que sempre
mesmo que não
queira
te leve
me leve
pro mesmo lado


(papéis revirados de março/08)

segundo refluxo

não é de tuas mãos que sinto saudade. mas de mãos quaisquer. de lábios. pernas. pele. pênis. peso de corpo sobre o meu.
saudade de flores. pela casa. pela noite. que nunca chegaram.
saudade de palavras. ao pé do ouvido. balbuciadas em gemidos. carne e saliva. mordidas. apego.
os clichês são sempre tão confortáveis. se não o fossem, não seriam clichês.
pela noite a solidão bate à porta. por todas as frestas ela adentra. fendas da casa. fendas do corpo.
dentro de mim. gesta, toma conta. e nunca é tarde. mas já é tarde.
o que faço de tudo isso que carrego dentro do peito?
sim, clichês. quero todos. porque mentiras sinceras me interessam.

(papéis revirados de outubro/08)

primeiro refluxo

mas enfim, aproveitando minha imersão em emotividade, acompanhada da trilha sonora de requiem for a dream.
escrevo, ou melhor, digito uma combinação de palavras que talvez ou não nos levem a algum lugar. saramago diz que virtualmente não derrubar-se-iam lágrimas. eu antes concordava, hj não mais. volátil que sou.
caríssimo, não te assusta se nada aqui fizer sentido. não há sentido, só desejos. de escarrar palavras aleatórias, que intimamente desejam significar algo, mas que ainda não sabem se o serão.
o que importa é o desejo imperante, o de ser sincera. é a regra de um vomitar palavras.

e elas virão assim sem ordem, sem mais nem menos.
e de supetão.
o que quero contigo? não faço idéia. preciso querer algo? querer é tão encarcerador. queiramos ser livres então, um querer utópico, uma subversão no querer ter.
desesperado por gritar... quem não é?
gritar revoltas. dores. amores. flores. cores. gritar por gritar.

o que quero, não faço idéia. meu coração por vezes é povoado, por vezes é vazio. quase abandonado. e é estranho não ser habitada por alguém, eu que sempre abriguei vilarejos inteiros de amores dentro do peito. agora poucos fantasmas dão as caras. alguns viajantes, transitam aqui, sem saber por que paragens andam.

mas o tempo passou e eu mudei. tanto que por vezes pergunto quem é a estranha que me olha. clichê, sei. os amo, o que fazer? nada tão bom e tão seguro quanto um clichê.
de qualquer forma, ventou dentro de mim e reviraram-se meus papéis, tirando do estável a ordem que eu conhecia. e da mesma história que eu havia escrito, se fez um novo roteiro. os personagens inverteram-se, vieram novos no lugar dos antigos principais. ficaram algumas lacunas, mas o novo roteiro é melhor que o velho. propicia mais cores, mais luz. nada tão expressionismo alemão como antes.

mas esperanças antropofágicas, eu não alimento. essas me consomem.
mas enfim. queiramos ser livres.


(revirar papéis virtuais e colocar tudo em um lugar só. texto de novembro/08)