sábado, dezembro 26, 2009


de sucessivos golpes, faz-se o pranto. não cabe em mim o que não sou. em mim só cabe o mundo de não ser. as infinitas possibilidades do devir e do não sido, sem ser.

domingo, novembro 08, 2009

cansada dessa casca inerte, que ocupa tanto de mim e do espaço.
sermeleve, é o único desejo.

quinta-feira, novembro 05, 2009

Me cansa tanto ver no espelho esse mesmo rosto, de onde conheço o lugar de cada marca. Dessas coisas imutáveis. Me sufoca tanto o cotidiano, que permanece repetido, como compacto de música só.
Me mata aos poucos essa pele. Esses erros conhecidos.Essa voz que oscila. A calma, que não vem. O tempo que passa sempre igual. Quase me vejo cantando como o Super Outro “felicidade não existe, o que existe na vida são momentos felizes”.
Quase sempre tudo é fuga. E quase sempre se sabe que fugir é problema, já que o motivo da fuga é quem foge. Então é apenas uma transferência de lugar, um paleativo. Deixa de sufocar um pouco aqui pra sufocar acolá.

segunda-feira, novembro 02, 2009


aquele sorriso tão branco, meio coisa de propaganda de pasta de dente, aquela coisa meio irreal que me sorri quando eu sorrio e penso muita coisa que não digo como meu deus, obrigada, porque eu vivi até aqui só pra conhecer esse garoto que se encanta com as cores que meus olhos vêem e ainda vêem mais ainda agora que a mente anda povoada de sonhos bobos que se espalham pelo corpo e pelo entorno, me fazendo pensar que a cura pra todo mal está nos braços dele que me tocaram naquele dia em que eu queria ser um contrabaixo pra depois não querer ser nada além do que qualquer coisa que fosse chamada por ele de minha e aí não ser mais sozinha e passar a fazer sentido quando vejo o sorriso tão branco, meio coisa de propaganda de pasta de dente, aquela coisa meio irreal que me sorri quando eu só rio.


papéis revirados de maio/2009
dias vazios. de ficar na cama, sem olhar a paisagem de fora, sem olhar a paisagem de dentro.
de esconder os olhos debaixo das cobertas.
de usar a imaginação em favor do querer.
de esperar o impossível.
de querer escrever. e não sair nada.
e de então querer o silêncio.


papéis revirados de maio/2009

quinta-feira, outubro 15, 2009

sobre os sobreviventes

“tenho uma coisa apertada aqui no meu peito, um sufoco, uma sede, um peso”

Caio Fernando Abreu

Tá aí. Sempre me encantou a falta de vírgula. Falta não, a ausência. A ausência sempre me encantou. Talvez por nossa relação assim tão próxima, que até chegava a confundir entre mim e ela. E mesmo assim, eu continuo lendo e rasgando o peito e pensando puta que o pariu que alguém já sentiu o mesmo que eu e ainda continuamos presos com a mesma goela seca.

E eu sei que vou sem fé por falta ou excesso de coragem e não vai dar em nada, é tudo ausência, no final das contas. A diferença é que antes parecia mais bonito, panos cá e acolá e joga uma purpurina sobre tudo que resolve. Mas ninguém mais tem saco se é que era saco que se tinha, vá saber. Ou era só uma ressaca coletiva uma transposição de tempo e pronto.

O fato é que ninguém sabe quem é Angela, chá, vodca pura, café na ressaca com cigarro e sol na cara. E as rugas vão continuar aparecendo ao redor dos olhos e o peito vai continuar caindo, tudo igual, nas oito horas fudidas pra reconstruir toda essa ausência.

terça-feira, agosto 04, 2009


aqui o tempo às vezes parece parado. estafado. tudo aqui carrega estafa.

caminho contra o vento que não sopra. sem lenço, mas com carteira de trabalho. adultecer dói.
saudade dói também.
há dias cinzas. há infinitos. há o sorriso quente, e afinal, o que aqui não é quente? mas há o sorriso quente que acalenta os dias de saudade. e apesar de eu ser vinho e ele cachaça e ambos não se misturarem, o porre é bom. embriagar-se de amor, sexo, suor e lágrimas é sempre incandescente.

sexta-feira, julho 31, 2009

irrefluxáveis


a moça sentada de mãos nos bolsos não esperava aquela aproximação.
os dias continuaram. vazios. sempre foram assim, agora pensa ela.
dias de facas no peito. insones.
o que falta, o que falta?
estilhaçada, cacos espalhados de dores perdidas e ressentidas. corpo encarnado de lágrimas, desconhecendo sorrisos. desses, só memórias. memórias quilometricamente distantes e de outros corpos.
fugiu, de mãos nos bolsos. do que era alheio não desejava nada. e um coração autofágico insistiu em mastigar a si mesmo.
inundou-se de medos, afogou-se no fluxo de todas as dúvidas.
olhos abertos, a estranha calma do deixar-se ir.
permitiu que o corpo fosse também fluxo.
alagada de si mesma, não percebeu suas águas sendo invadidas por outros braços.



lembrando de palavras de outrem. usando palavras de outrem. de ontem.

quinta-feira, maio 28, 2009


rasga a carne feito navalha e sente o quente. diz ele que reconforta. diz ele que transcende. sem saturação, vermelho ocre de azedume. faço o mesmo. e tudo encharca o charco que se forma e me consola.

sábado, maio 16, 2009

sexta-feira, maio 15, 2009


e então ele me pediu a chave da porta da frente. relutei, pensei, não dei. rondou a casa por dias, até que me achasse distraída. entrou sorrateiro, pela janela.
mandei-o sair de todas as formas. gritei, chorei, tentei pedir. escurracei-o incessantemente.
me olhava de soslaio e sorria, ora só com os olhos.
por dias durou esse impasse. eu o empurrava e ele era tão mais forte do que eu!
um dia saiu.
a casa mudou, depois de tanto sua presença. quando imaginava eu estar em felicidade plena, percebo a falta: levara com ele a chave da porta da frente e me deixara lá, trancada dentro de mim.
me debati pelas paredes. gritei e chorei, como se por acaso ele pudesse ouvir.
nada. deixara todo o seu silêncio dentro daquela arquitetura intruncada onde eu me encontrava.
e quando eu já me confundia com quaisquer das paredes, a maçaneta girou.
ele havia voltado pra casa.



(papéis revirados de junho/08)

eu antes não gostava de guardas-chuva, mas aí eu conheci Satolep, pq antes eu tbm não gostava de Pelotas e depois do Vitor Ramil eu passei a gostar. eu gosto de frio, de calor e mais ainda de outono, qd não é nem frio nem calor e tudo se veste de vermelho. mas tbm gosto qd os jacarandás vestem as ruas, as praças e as poças d'água de lilás. eu gosto de fotografia, mas elas nem sempre saem como minha mente imagina. eu gosto de desenhar, mas meus desenhos tbm nem sempre saem como minha mente imagina. lápis de cor, caneta de nanquim e pastel seco. recortes. xadrez. listras. poás. cerejas. pôr-do-sol, chuva escorrendo nas vidraças, som do vento nas folhas secas. livros são sempre a melhor companhia, melhores ainda se forem caios, simones, clarices. música tbm. gosto de maquiagem, mas não sei usar. de salto, mas não uso. às vezes eu pareço uma árvore de natal. de tanto badulaque pendurado. principalmente quando estou feliz. pegar carona na estrada é uma das melhores coisas da vida. chegar na minha casa tbm, mas só qd ela não está bagunçada. Marilyn Monroe e Elvis Presley. Andy Warhol e a Pop Art. cinema europeu, mesmo sem conhecer muito. cores de Almodóvar, cores de Frida Kahlo, cores. escrever sem vírgulas e com muitas vírgulas e com várias reticências e sem ponto final e com muitos pontos finais e sem maiúscula e. sentar na sala sozinha, à meia-luz. tirar gelo do congelador com as mãos. odeio dedos dos pés se mexendo, mas acho pés das mais bonitas partes do corpo. bocas tbm. mas essas, essas eu não me importo que se mexam. principalmente quando coladas à minha.



(papéis revirados de mar/08)

quinta-feira, maio 14, 2009

transbordando

sou eu que nunca estou onde meu corpo está ou é meu corpo que está sempre no lugar errado?

quarta-feira, maio 13, 2009

terça-feira, maio 05, 2009

sobre quando o mar salgou o rio


Manhãs de frio e sol são sempre nostálgicas. Eu, que entre as duas, prefiro sempre a paralela, já me acostumei a sentir saudades inventadas. Penso no mar. Logo eu que não conheço o mar. E meu pensamento se torna azul. Como o céu que carrego nos cabelos, como o mar que carrego na mente.
E penso no pouco que sei sobre a imensidão do mar. E no pouco que sei do que vivi até aqui. E meus olhos, rasos, se enchem e transbordam como o mar que transborda em mim.
Se bem agora eu pudesse com meus pés tocar a ponta do mar, quem sabe pudesse então estar mais perto.
Lembro do Tim falando de universo em desencanto e percebo e penso no quão encantado tem andado o meu. E nisso os olhos se inundam novamente ao pensar que, ó (!), eu posso ter meu próprio mar, que me abrace em cada poro.
Meu próprio mar, que se misture a todos os rios que me perpassam. Porque mudei e não sou mais feita de estradas. Sou fluída, sou eu agora toda água.



(papéis revirados de março/09)

domingo, maio 03, 2009

Antes de começar a escrever, não sabia ao certo que horas eram. Hoje fugi do mundo. Acordei tarde, fechei as janelas e escrevi bilhetes que não serão entregues. E agora, só queria fazer de conta que o hoje não existiu.

Impotência. Outra velha palavra a ganhar novo significado.

sábado, maio 02, 2009

deitada, abriu os olhos.
e deixou que a luz invadisse seus olhos de não ver.
esqueci qual é o gosto de saliva. tudo é fel.
descontrole sobre o corpo que ocupo. ou ocupam por mim.
vibra, corrói. porradas, socos.
fora de mim, o mundo morreu.
a violência que me leva a mover o rosto que pesa, o peso do mundo que morre sobre os ombros.
cadenciado, como uma marcha.
rasgo a pele fina que cobre o que pulsa. sou agora o espaço que outrora era entorno.
todo o amargo de saudade impera.
redenção a cada novo ritmo, violência coreografada.
arde, piazzolla. que a tua dor me renova.

sexta-feira, maio 01, 2009

refluxo final pós tormenta

sou teu câncer, ferida que cisma em não fechar. Lugar-comum, chavão.

o corpo em que teu olhar se perde, o corpo que se perde nas covas rasas da tua fala, no abismo da tua boca. Tenho o calor que sobra da tua pele e a frieza que falta na tua pouca melancolia. Teu inferno, tua sina, tua inspiração pro nada, tua lei. Teu tormento, teu pecado. Tua culpa. Teu sexo. Tua fome, tua sede, teu sedativo.

(papéis revoltados de dezembro/06)

terceiro refluxo

mas ele não está aqui agora, com seus olhos de tranverso, seu silêncio incondicional, sua presençaimpresente e sua impresençapermanente
sua dialética platônica, eternamente no mundo das idéias, ou quem sabe mórfica, na permanência nos domínios do pai de orpheus, filho de calipso... aquela, que tantos escritores inspirou...
nem sei mais porque estrada segue meu discurso, se pelo amarelo-dourado dos tijolos que levam a Oz ou se simplesmente de volta pra casa, esperando as folhas caírem a meus pés na imensindão outonal...


deus, quanta palavra desconexa em um curto tempoespaço



















nem sei bem
talvez porquê
desnorteada
e desenfreada
enfim
caindo
a
s
s
i
m
nesse volteio
ansioso
que sempre
mesmo que não
queira
te leve
me leve
pro mesmo lado


(papéis revirados de março/08)

segundo refluxo

não é de tuas mãos que sinto saudade. mas de mãos quaisquer. de lábios. pernas. pele. pênis. peso de corpo sobre o meu.
saudade de flores. pela casa. pela noite. que nunca chegaram.
saudade de palavras. ao pé do ouvido. balbuciadas em gemidos. carne e saliva. mordidas. apego.
os clichês são sempre tão confortáveis. se não o fossem, não seriam clichês.
pela noite a solidão bate à porta. por todas as frestas ela adentra. fendas da casa. fendas do corpo.
dentro de mim. gesta, toma conta. e nunca é tarde. mas já é tarde.
o que faço de tudo isso que carrego dentro do peito?
sim, clichês. quero todos. porque mentiras sinceras me interessam.

(papéis revirados de outubro/08)

primeiro refluxo

mas enfim, aproveitando minha imersão em emotividade, acompanhada da trilha sonora de requiem for a dream.
escrevo, ou melhor, digito uma combinação de palavras que talvez ou não nos levem a algum lugar. saramago diz que virtualmente não derrubar-se-iam lágrimas. eu antes concordava, hj não mais. volátil que sou.
caríssimo, não te assusta se nada aqui fizer sentido. não há sentido, só desejos. de escarrar palavras aleatórias, que intimamente desejam significar algo, mas que ainda não sabem se o serão.
o que importa é o desejo imperante, o de ser sincera. é a regra de um vomitar palavras.

e elas virão assim sem ordem, sem mais nem menos.
e de supetão.
o que quero contigo? não faço idéia. preciso querer algo? querer é tão encarcerador. queiramos ser livres então, um querer utópico, uma subversão no querer ter.
desesperado por gritar... quem não é?
gritar revoltas. dores. amores. flores. cores. gritar por gritar.

o que quero, não faço idéia. meu coração por vezes é povoado, por vezes é vazio. quase abandonado. e é estranho não ser habitada por alguém, eu que sempre abriguei vilarejos inteiros de amores dentro do peito. agora poucos fantasmas dão as caras. alguns viajantes, transitam aqui, sem saber por que paragens andam.

mas o tempo passou e eu mudei. tanto que por vezes pergunto quem é a estranha que me olha. clichê, sei. os amo, o que fazer? nada tão bom e tão seguro quanto um clichê.
de qualquer forma, ventou dentro de mim e reviraram-se meus papéis, tirando do estável a ordem que eu conhecia. e da mesma história que eu havia escrito, se fez um novo roteiro. os personagens inverteram-se, vieram novos no lugar dos antigos principais. ficaram algumas lacunas, mas o novo roteiro é melhor que o velho. propicia mais cores, mais luz. nada tão expressionismo alemão como antes.

mas esperanças antropofágicas, eu não alimento. essas me consomem.
mas enfim. queiramos ser livres.


(revirar papéis virtuais e colocar tudo em um lugar só. texto de novembro/08)

quinta-feira, abril 30, 2009

fluxoar

Sobre amores e cigarros

Acendo um em outro
Apago todos
Na palma das mãos

primeiras chuvas

queria inventar palavras novas. as já existentes me criam certo repúdio acerca do sentido que produzem. não é o sentido do que sinto. e são sempre as mesmas palavras que perpassam as mesmas linhas. tempo, querer, respeito. significados pequenos demais pra tudo o que são dentro de mim. Ah, quanta vontade de ser habitada novamente. ser novamente um vilarejo e não mais um deserto. e dentro do meu casulo entendo ou finjo entender tanto. e se é hora de embriagar-me sozinha, que o seja. não que as coisas possuam horas, possuem ritmos. ou não possuem nada, aprego às coisas esses. não quero respostas. já as tenho. ou não tenho nada, e não importa. Rasa, como sempre. a espera. a espera do dia em que vou chegar em mim.